Publicações brasileiras de Terapia Ocupacional na área de gerontologia entre 2010 e 2015: uma revisão de escopo

 

Publicaciones brasileras de Terapia Ocupacional en

gerontología entre 2010 y 2015: una revisión de alcance

 

Brazilian Occupational Therapy publications in gerontology

between 2010 and 2015: a scoping review

 

 

Yhanna Porto Sereno Cabral1

Claudia Reinoso Araujo de Carvalho2

Monica Villaça Gonçalves3

 

Recibido: 15 de abril 2018 • Enviado para modificación: 29 de junio 2018 • Aceptado: 12 de octubre 2018

Cabral, Y.P.S., de Carvalho, C.R.A. & Gonçalves, M.V. (2018). Publicações brasileiras de Terapia Ocupacional na área de gerontologia entre 2010 e 2015: uma revisão de escopo. Revista Ocupación Humana, 18 (2), 20-40. doi: https://doi.org/10.25214/25907816.226

 

1 Terapeuta Ocupacional. Rio de Janeiro, Brasil. yhannaporto@hotmail.com.

https://orcid.org/0000-0003-2354-9445

2 Terapeuta Ocupacional. Doctora en Salud Pública. Docente, Departamento de Terapia Ocupacional, Universidad Federal de Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Brasil. claudiareinoso73@gmail.com. https://orcid.org/0000-0003-4105-9191

3 Terapeuta Ocupacional. Magíster en Salud Pública. Doctoranda en Terapia Ocupacional, Universidad Federal de São Carlos. Docente, Departamento de Terapia Ocupacional, Universidad Federal de Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Brasil. movillaca@hotmail.com. https://orcid.org/0000-0002-8090-9884

RESUMo

O objetivo deste trabalho foi identificar as tendências dos estudos mais recentes na área de Terapia Ocupacional em Geriatria e Gerontologia tendo por base os dois periódicos brasileiros da área. A metodologia empregada foi a revisão de escopo de artigos publicados entre 2010 e 2015 nos periódicos: Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional e na Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo. Os artigos foram discutidos tendo por base suas temáticas principais, definidas após a análise temática do conteúdo das publicações encontradas: Instrumentos Avaliativos e Protocolos; Formação Profissional; Abordagens Técnicas e Recursos Terapêuticos; e Cuidadores de Idosos. Concluiu-se que, apesar do pequeno número de publicações, a área tem sido abordada de diversas formas pelos terapeutas ocupacionais, refletindo diferentes possibilidades de atuação, porém com um enfoque voltado para o campo da saúde. Aponta-se que existem lacunas a serem preenchidas, em especial ao que se refere ao entendimento do processo de envelhecimento como um fenômeno social.

Palavras-chave

Terapia Ocupacional, geriatria, idoso, envelhecimento

Resumen

El objetivo de esta revisión fue identificar las tendencias de los estudios más recientes en el área de Terapia Ocupacional en Geriatría y Gerontología, teniendo como base dos revistas brasileras de Terapia Ocupacional. La metodología empleada fue la revisión de alcance de artículos publicados entre 2010 y 2015 en las revistas Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional y Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo. Los artículos identificados se analizaron a partir de las principales temáticas que abordan, definidas después de revisar su contenido: instrumentos evaluativos y protocolos; formación profesional; enfoques, técnicas y recursos terapéuticos; cuidadores de adultos mayores. Se concluye que, a pesar del pequeño número de publicaciones, el área ha sido abordada de diversas formas por los terapeutas ocupacionales, reflejando diferentes posibilidades de actuación, aunque enfocadas en el campo de la salud. Se señala que existen brechas que requieren ser llenadas, especialmente en lo que se refiere a la comprensión del proceso de envejecimiento como un fenómeno social.

PALABRAS CLAVE

Terapia Ocupacional, geriatría, persona mayor, envejecimiento

ABSTRACT

The objective of this review was to identify the trends of the most recent studies in Occupational Therapy in geriatrics and gerontology based on two Brazilian Occupational Therapy journals. The methodology used was a scoping review of the literature published in the Brazilian Journal of Occupational Therapy and the Occupational Therapy Journal of University of São Paulo between 2010 and 2015. The articles were analyzed based on their main themes, defined after the review of their contents: Evaluative instruments and protocols, vocational training, approaches, techniques and therapeutic resources, care of senior people. It was concluded that, despite the small number of publications, the area has been approached in various ways by occupational therapists, reflecting different possibilities of this professional area of practice, although focused on healthcare. It is pointed out that there are gaps to be filled, especially in regard to the understanding of the aging process as a social phenomenon.

KEY WORDS

Occupational Therapy, geriatrics, elderly, aging

 

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Revisión

Introdução

Atualmente a população idosa vem crescendo significativamente em todos os países. No Brasil, assim como nos países em desenvolvimento, é considerado idoso aquele que tem 60 anos de idade ou mais, enquanto que nos países desenvolvidos considera-se a idade de 65 anos. Este crescimento da população idosa é atribuído ao aumento da expectativa de vida, à redução da taxa de mortalidade e à queda de fecundidade, que ocasionam uma desaceleração do crescimento populacional infantil e uma aceleração do envelhecimento populacional. Um dos grandes desafios deste século é a criação de estratégias para qualidade de vida e para o cuidado da população idosa, que apresenta diversas particularidades e, ainda, uma elevada prevalência de doenças crônicas degenerativas e incapacitantes (Lirani-Silva, Mourão & Gobbi, 2015).

Segundo o relatório da United Nations (2017), em 2017 havia, aproximadamente, 962 milhões de idosos no mundo, o que representa 13% da população mundial. Em comparação com outros países da América Latina, o Brasil está em um estágio avançado de transição demográfica. Em 2020, estima-se 21,2 idosos para cada 100 pessoas em idade ativa, relação esta que, de acordo com as projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –IBGE, poderá elevar-se para 51,9, em 2050 (Simões, 2016).

Com o envelhecimento populacional, os idosos passaram a constituir uma parcela significativa de usuários dos serviços de saúde, resultando no aumento do consumo dos serviços por parte desse grupo populacional nos últimos anos. Os grandes centros populacionais brasileiros, entretanto, ainda não dispõem de infraestrutura de serviços que deem conta das demandas decorrentes das transformações demográficas vigentes (Veras & Parahyba, 2007).

Dentre as profissões de saúde, a Terapia Ocupacional tem papel importante na Gerontologia, pois atua na promoção da saúde e prevenção de doenças, preparando o idoso para os eventos inerentes ao envelhecimento, buscando autonomia e incentivando a participação familiar e seu convívio social (Mendonça, 2015). A integração desse profissional nos serviços de saúde, em que grande parte de usuários são idosos, é fundamental. Por meio do uso específico de atividades, o terapeuta ocupacional atua em conjunto com outros profissionais, em diferentes áreas. A análise prévia e avaliação dessas atividades são componentes essenciais para o trabalho desse profissional. Com instrumentos e estratégias que envolvam a atividade humana, o terapeuta ocupacional atua promovendo o desenvolvimento das habilidades do indivíduo, no tratamento e na reabilitação (individual e/ou grupal).

As publicações são importantes meios de divulgação do conhecimento acerca de uma temática. Estas são capazes de refletir o desenvolvimento de uma área de atuação e possuem a característica de se tornarem referência mundial. Portanto, são ferramentas importantes para a pesquisa e o entendimento de assuntos diversos (Brofman, 2012). Ao considerar tais fatos, a proposta deste artigo foi identificar a tendência da produção do conhecimento em Terapia Ocupacional em Geriatria e Gerontologia4 tendo por base os dois periódicos brasileiros da área de Terapia Ocupacional. Não foram identificados outros estudos semelhantes no Brasil.

 

Metodologia

Foi realizada revisão de escopo nos periódicos brasileiros de Terapia Ocupacional indexados na base LILACS (Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde) no momento da pesquisa: Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional (chamados, na época da pesquisa, de Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar) e Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo.

A busca pelos artigos foi desenvolvida no período de novembro a dezembro de 2015 e obedeceu aos seguintes critérios de inclusão: ter no máximo cinco anos de publicação (consideraram-se os artigos publicados entre os anos 2010 e 20155) e apresentar um dos seguintes descritores: “gerontologia”, “geriatria”, “idosos”, “idoso”, “envelhecimento” no título ou nas palavras-chave. Não se utilizou o descritor “Terapia Ocupacional”, uma vez que se tratava já de revistas específicas da área. Como critério de exclusão foi estabelecido não se referir prioritariamente a temática, ou ser um artigo de revisão.

A busca foi realizada diretamente na página eletrônica de cada revista, através dos sumários de cada número publicado. Inicialmente, os artigos foram identificados com base nos títulos e, na sequência, foram verificados os descritores. Desta forma, foram selecionados 31 artigos, de acordo com os títulos ou palavras chaves. Após esse procedimento foram lidos os resumos e excluídos os artigos que se tratavam de revisão e literatura. Nesta etapa, foram retirados da análise três artigos (Batista, Almeida & Lancman, 2011; Dias, Duarte, Almeida & Lebrão, 2011; Novelli & Canon, 2012).

Após esta etapa, os 28 artigos restantes foram lidos na íntegra e categorizados em cinco temáticas principais, de acordo com a análise de conteúdo, na modalidade temática (figura 1), de acordo com o proposto por Bardin (Bardin, 2011). O objetivo dessa técnica é assinalar e classificar, de maneira objetiva e exaustiva, todas as unidades de registro existentes no texto, obtendo indicadores úteis ao objetivo da pesquisa (Bardin, 2011). Desta forma, não se objetivou analisar a qualidade das publicações, seu métodos e abordagens, mas sim, identificar e descrever as principais temáticas abordadas em cada uma delas.

Após a organização do material, realização da leitura e da organização das unidades de registro, chegou-se a categorização temática que se segue:

Instrumentos/protocolos: artigos relacionados aos instrumentos e protocolos de avaliação utilizados na população idosa.

Formação profissional: artigos relacionados às experiências de ensino e pesquisa na graduação e pós-graduação.

Abordagem/recursos terapêuticos: artigos com enfoque nas abordagens e recursos terapêuticos.

Cuidadores de idosos: artigos relacionados aos cuidadores formais e informais de idosos.

Outros: artigos que não se enquadram nas categorias supracitadas.

 

Resultado

O levantamento sobre os artigos publicados no período de 2010 a 2015 mostrou que o Caderno Brasileiro de Terapia Ocupacional publicou, por ano, de três a quatro volumes e a Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, três. Portanto, o primeiro periódico publicou o total de 363 artigos e o segundo, 227 artigos no período de 5 anos.

 

Dos 363 artigos publicados pelos Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional no período, 14 se referiam a Gerontologia e dos 227 artigos publicados pela Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 17 se referiam a Gerontologia. Desse total de 31, três estudos de revisão foram descartados e outros 28 foram analisados.

Instrumentos avaliativos e protocolos

Nessa categoria, foram incluídos nove artigos que apresentaram como abordagem principal os instrumentos avaliativos que norteiam o profissional e suas instituições na realização da avaliação dos idosos. Aqui considera-se os instrumentos avaliativos padronizados, ou seja, aqueles de uso universal e que passaram por procedimentos de validação e/ou adaptação transcultural, e outros instrumentos não padronizados.

Toldrá et al. (2012) realizaram a adaptação transcultural do Late-life Function Disability Instrument (LLFDI) destinado a avaliar o grau de independência funcional em idosos, enquanto Cardoso et al. (2015) avaliaram a confiabilidade intra e interexaminadores do LLFDI. O estudo teve a finalidade de avaliar as possíveis perdas da capacidade funcional na realização das Atividades de Vida Diária e a dificuldade e/ou necessidade de ajuda para realizá-las.

Novelli et al (2015) realizaram a adaptação transcultural da Bateria Dynamic Lowestein Occupational Cognitive Assessment for Geriatric Population (DLOTCA-G) para a Língua Portuguesa. Sendo uma avaliação dinâmica, o DLOTCA-G requer níveis de mediação e busca identificar a melhor estratégia para melhorar o desempenho cognitivo. Considerou-se este um importante instrumento de avaliação, pois se obtém informações que não seriam obtidas por meios tradicionais, além de orientar quanto ao tipo e quantidade de ajuda necessária e essencial para a melhora no desempenho das tarefas realizadas pelo indivíduo.

Os trabalhos de Toldrá el al. (2012), Cardoso et al. (2015) e Novelli et al (2015) mostraram a importância dos estudos sobre os métodos de avaliação funcional e a importância da adaptação, validação e confiabilidade para que haja facilitação e boa finalidade de uso desses instrumentos, tanto para os profissionais quanto para os pacientes.

Canon e Novelli (2012) buscaram identificar a presença e a intensidade de sintomas comportamentais e psicológicos em idosos de uma Instituição de Longa Permanência. Utilizaram três instrumentos de avaliação: Inventário Neuropsiquiátrico, Escala de Independência nas Atividades de Vida Diária (Escala de Katz) e Inventário de Sobrecarga de Zarit (ISZ). O artigo relata a importância da identificação de alterações como: depressão, agitação e ansiedade e sua correlação com a capacidade funcional do idoso.

O estudo de Dias et al. (2014) é um resultado da Dissertação de Mestrado, intitulada Atividades Avançadas de Vida Diária e envelhecimento: um estudo de revisão, e propõe a descrição das principais características das atividades cotidianas e posterior classificação das Atividades Avançadas de Vida Diária como domínios de atividades. Essa classificação se deu através das características das atividades, habilidades e funções envolvidas. O estudo relata a pouca sensibilidade das Atividades Básicas de Vida Diária e Atividades Instrumentais de Vida Diária para detectar prejuízo funcional e exalta a importância da inclusão das Atividades Avançadas de Vida Diária como instrumento de avaliação, pois estas últimas refletem os níveis de participação social e qualidade de vida no envelhecimento.

Bispo, Rocha e Rocha (2012) realizaram um estudo com o objetivo de avaliar a capacidade funcional de idosos cadastrados no Programa de Saúde da Família na comunidade do Pontal da Barra, em Maceió – AL. A pesquisa contou com o auxílio de Agentes Comunitários de Saúde, e foi realizada a coleta de dados no domicílio de cada idoso utilizando o Standford Health Assessment Questionaire (HAQ). Houve bom resultado, com vantagem para o sexo feminino, em que se destacou a necessidade de investigação de fatores socioeconômicos, demográficos e relacionais, que podem influenciar na capacidade funcional do idoso. Ressalta-se a importância dessa identificação para a possibilidade de elaboração de estratégias e ações direcionadas a esse público.

Os estudos de Bispo, Rocha e Rocha (2012) e de Dias et al. (2014) revelam a importância da avaliação funcional e seus componentes, para a elaboração de estratégias que visam à identificação precoce de alterações nesses aspectos e a melhora da qualidade de vida do idoso.

Andrade e Novelli (2015) e Mendes e Novelli (2015) realizaram estudos que objetivaram a identificação e caracterização de aspectos cognitivos e funcionais de idosos. O primeiro contou com a participação de idosos frequentadores de três Centros de Convivência para a terceira idade, enquanto que no segundo estudo, participaram idosos moradores de uma Instituição de Longa Permanência para Idosos, ambos localizados na cidade de Santos – SP. Realizado em 2009, o estudo de Andrade e Novelli (2015) utilizou seis instrumentos avaliativos: Questionário de Perfil Sociodemográfico, Questionário Socioeconômico, Mini Exame do Estado Mental (MEEM), Questionário de Queixas Subjetivas de Memória (MAC-Q), Escala de Katz e Escala de Atividades Instrumentais de Vida Diária de Lawton e Brody e contou com a parceria entre a Secretaria de Assistência Social e o curso de Terapia Ocupacional da Universidade Federal de São Paulo. O artigo mostrou que uma parte significativa dos idosos apresenta declínio funcional para as Atividades Instrumentais de Vida Diária e Atividades Básicas de Vida Diária, apresentando problemas nas questões de continências, administração de medicamentos, realização de trabalhos domésticos e manuseio de dinheiro, e declínios cognitivos, como a queixa da memória global. Utilizando questionário semiestruturado, Dynamic Lowestein Occupational Cognitive Assessment for Geriatric Population (DLOTCA-G) e Escala de Avaliação de Incapacidade na Demência (DAD),realizado em 2012, Mendes e Novelli (2015) concluíram que a falta de autonomia e independência vista no estudo, ocorrem devido à rotina institucional. Ressaltam a importância da reflexão acerca desses aspectos para pensar propostas de ações, objetivando manter a capacidade funcional. Ambos os estudos encontraram correlação entre a funcionalidade e cognição dos idosos avaliados.

Apesar de não abordar a utilização de Instrumento/Protocolo padronizado, como os demais estudos aqui citados, o estudo de Martinez e Emmel (2013) propôs a criação de um roteiro em formato de checklist para avaliar condições espaciais, favoráveis e desfavoráveis, das residências dos idosos. Os autores avaliaram, primeiramente, os dados gerais do ambiente físico e, posteriormente, mobiliário e medidas antropométricas dos idosos. Mostrando-se uma importante ferramenta para avaliação de aspectos que envolvem funcionalidade e segurança, o roteiro contribui para promoção e prevenção da independência. Direciona o olhar do profissional para ações de adequação postural e pode ser facilmente utilizado pela equipe multiprofissional, sendo de grande relevância para a prática da Terapia Ocupacional.

Após a leitura dos artigos pertencentes à temática Instrumentos/Protocolos, identificou-se a importância da participação da Terapia Ocupacional durante o processo de adaptação transcultural, confiabilidade e validação de protocolos de avaliação. O terapeuta se torna importante mediador em determinados métodos avaliativos, facilitando a adaptação do instrumento de acordo com o nível de entendimento e interpretação do idoso a ser avaliado (Lourenço & Mendes, 2015).

Formação profissional

Foram encontrados quatro artigos cujo enfoque principal foi o da formação profissional. Foram aqui analisados os estudos que abordaram as experiências e vivências realizadas durante a formação em Terapia Ocupacional, em diversos níveis de ensino, bem como análises dos métodos de ensino durante a graduação.

Almeida, Ferreira e Batista (2011) realizaram estudo buscando o aprimoramento da formação na área gerontológica do curso de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo. Realizado entre os anos de 2009 e 2010, o trabalho se deu através de questionário não presencial com docentes de instituições públicas e particulares, membros da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa em Terapia Ocupacional –RENETO e voluntários. O questionário abordou os seguintes aspectos: disciplinas referentes à gerontologia sob responsabilidade do docente, carga horária destas disciplinas, adequação considerada para a formação na área e previsão de mudanças quanto ao conteúdo e/ou metodologia de ensino. A pesquisa concluiu a necessidade de adequação da carga horária durante a formação, maior articulação teórico-prática e a inclusão de mais disciplinas específicas, além de contribuir para reflexão sobre a ampliação do uso de metodologias ativas como estratégia de ensino e aprendizagem.

Almeida, Batista e Lucoves (2010) e Vasconcellos e Almeida (2013) estudaram as percepções de egressos (com um ano ou mais de atuação) do curso de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, através de questionário não presencial, a fim de buscar contribuições para a graduação e, dessa, para a atuação com pessoas idosas em distintas modalidades. O primeiro estudo contou com a participação de 19 terapeutas ocupacionais, formados entre os anos de 2004 a 2008, sendo sete atuantes na área de Gerontologia. De acordo com o estudo, os desafios na atuação se referem ao desconhecimento da profissão por outros profissionais e a escassez de recursos para intervenções.

Também buscando a percepção de egressos do curso de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, o artigo de Vasconcellos e Almeida (2013) focou-se para a disciplina de estágio supervisionado em Geriatria e Gerontologia, seguindo os critérios de tempo de atuação e método de coleta dos dados citados anteriormente. Buscando obter sugestões sobre os diferentes aspectos da disciplina, o estudo teve a participação de egressas que citaram como sugestões: a ampliação da carga horária destinada à supervisão, a atuação em serviços de atenção primária e secundária e a incorporação de Instituição de Longa Permanência para Idosos e Centro de Reabilitação ao programa de estágio na graduação.

Varoto e Azevedo (2011) realizaram um relato de experiência de uma aluna da graduação em Terapia Ocupacional, estagiando na área da Gerontologia, com ênfase na formação prática profissional desta aluna. O artigo relata de maneira detalhada o processo da aluna no projeto e contribuiu para ampliação de conhecimentos teóricos interligados à prática.

As disciplinas inerentes à Geriatria e Gerontologia, durante a graduação, são importantes meios de contribuição para a carreira profissional dos alunos de Terapia Ocupacional, pois acarreta na distribuição de conhecimento acerca do assunto, preparando-os para a atuação nessa área. Juntamente com as disciplinas, faz-se necessário a disponibilização de vagas de estágios nos diferentes níveis de cuidado com o idoso. A vivência e a prática nesse campo fazem com que os alunos possam adquirir experiências e buscar novas estratégias de cuidado. Docentes e egressos, participantes dos artigos analisados, citam a importância da análise das matrizes curriculares dos cursos de graduação em Terapia Ocupacional, com o objetivo de fazer com que o aluno, ao final da graduação, esteja melhor preparado para atuação nas diversas áreas, incluindo a Gerontologia (Vasconcelos & Almeida, 2013).

Abordagens, técnicas e recursos terapêuticos

Nesta temática, foram discutidos os estudos com enfoques nos diferentes recursos e abordagens terapêuticas para a Terapia Ocupacional em Geriatria e Gerontologia. Foram selecionados e analisados sete artigos.

Canon e Couto (2014) descreveram a atuação da Terapia Ocupacional junto aos idosos hospitalizados na Enfermaria Geriátrica de um hospital, na cidade de São Paulo. Abordando aspectos sensoriais, cognitivos, psicomotores e funcionais, os autores analisaram se os atendimentos terapêuticos ocupacionais maximizaram a independência do idoso para a atividade de alimentação, enquanto hospitalizados. O estudo mostrou melhora da parte motora e significativo aumento desta evolução. Embora se tenha notado um grande impacto devido à hospitalização, os atendimentos terapêuticos ocupacionais mostraram-se viáveis e eficazes. Contribuiram para a diminuição das consequências de tempo prolongado no leito, bem como melhorou a qualidade de vida dos idosos e seus familiares. Destacou-se, ainda, a importância das orientações dadas aos cuidadores e familiares pelo profissional de Terapia Ocupacional.

Meneses et al., (2013) estudaram os jogos computacionais como recurso capaz de estimular as funções cognitivas de idosos com transtorno cognitivo leve. O resultado do estudo mostrou que não houve melhora significativa no desempenho cognitivo dos idosos e levantou a discussão sobre a inclusão das atividades de vida diária no desenvolvimento desses jogos.

Utilizando a reabilitação cognitiva e sua aplicabilidade, Loureiro et al. (2011) estudaram os efeitos da intervenção da Terapia Ocupacional no desempenho cognitivo e a influência deste, na capacidade funcional de idosos institucionalizados. Foram utilizados 6 instrumentos para avaliação inicial e final, a fim de medir o grau do desempenho antes e após a intervenção. Ao todo foram realizadas 23 sessões de reabilitação cognitiva, grupal e individual. O estudo mostrou que a funcionalidade dos idosos se relacionou, de forma sutil, com a evolução do desempenho cognitivo, identificada na pesquisa. Os autores ressaltam a importância da reabilitação cognitiva para o desempenho cognitivo dos idosos institucionalizados, bem como a busca pela compreensão entre cognição e funcionalidade.

Perez e Almeida (2010) e Sato, Batista e Almeida (2014) realizaram intervenções grupais, objetivando a estimulação da capacidade cognitiva. O primeiro trabalho analisado buscou identificar a influência do Programa de Estimulação da Memória para o desempenho das tarefas de vida diária e incorporação de estratégias e atividades do cotidiano, que estimulam as habilidades cognitivas. Utilizando um roteiro semiestruturado, aplicado por um moderador principal, segundo os idosos, o Programa de Estimulação da Memória compensa e reduz as dificuldades cognitivas. Sato, Batista e Almeida (2014) utilizaram a “técnica de revisão de vida” como recurso, sendo conduzido por uma Terapeuta Ocupacional junto aos idosos de um Centro de Convivência. Por meio da observação e registro em diário de campo, o grupo estimulou idosos a evocar lembranças das diferentes fases da vida, resgatar interesses ocupacionais e promoveu reflexões acerca de possíveis projetos de vida. Utilizando de atividades expressivas e um “livro de memórias do grupo”, o recurso utilizado contribuiu para identificação de desejos e necessidades dos idosos, bem comopara a ampliação da consciência sobre si mesmo, mostrando-se, assim, um importante recurso para a Terapia Ocupacional no atendimento a idosos.

Na Oficina “Deu Branco”, um projeto criado por cinco estagiárias e uma supervisora, todas integrantes do curso de Terapia Ocupacional da Universidade Federal de São Paulo, foi realizado, no primeiro semestre do ano de 2010, um estudo objetivando investigar qualidades e defeitos de atividades desenvolvidas nessa oficina. Isso foi desenvolvido através de questionário semiestruturado, contendo questões a respeito da qualidade dessas atividades e a percepção dos participantes acerca das mudanças cognitivas e psicossociais, bem como por meio da observação das estagiárias acerca do desempenho dos idosos. Segundo a publicação de Andrade et al. (2014), o estudo apresentou 100% na melhora da memória dos participantes e mostrou-se importante recurso terapêutico ocupacional de promoção e prevenção da saúde para idosos.

Galvanese et al. (2014) mapearam as principais linhas que caracterizaram as ações da Terapia Ocupacional no trabalho interdisciplinar no Lazer com Arte para a Terceira Idade. Através de dinâmicas de grupo e acompanhamentos individuais, a presença da Terapia Ocupacional caracterizou-se pelo contínuo convite à vivência dos ateliês enquanto espaços de aprendizagem em arte. Potencializou as trocas sociais e os aspectos de criação, além de estabelecer forte conexão entre a experiência da criação, da produção de saúde e a potencialização da vida.

Os trabalhos discutidos mostraram o interesse do profissional em adaptar a atividade às necessidades e interesses do paciente, bem como identificá-las. Além de permitir maior interação e verificar os resultados da utilização da reabilitação cognitiva, da técnica de revisão de vida e do Programa de Estimulação da Memória como recursos para intervenções. As diversas abordagens e recursos terapêuticos se mostram grandes norteadores do atendimento terapêutico ocupacional. Antes da introdução de um recurso, se faz necessário o entendimento de sua função no atendimento.

Cuidadores de idosos

Esta temática teve como foco discutir o olhar voltado para os cuidadores de idosos, formais e informais. Três artigos foram analisados.

Arakaki et al. (2012) e Cabral e Perez Nunes (2015) realizaram estudos objetivando analisar as percepções de cuidadores familiares. O primeiro artigo buscou analisar a presença, frequência e identidade dos Sintomas Psicológicos e Comportamentais da Demência e a sobrecarga e desgaste do cuidador familiar diante dessas alterações. Realizado com cuidadores de idosos com Doença de Alzheimer, o estudo mostrou que os Sintomas Psicológicos e Comportamentais da Demência associados à sobrecarga e desgaste do cuidador são: desinibição, irritação, depressão, alucinação, apatia e delírio. O segundo estudo identificou e descreveu as percepções desses cuidadores acerca do cuidado prestado ao idoso hospitalizado, o significado deste e como se sentem desempenhando essa tarefa. Com vantagens e desvantagens nos cuidados em casa e no hospital, os cuidadores relataram sentimentos ambivalentes ao prestar o cuidado ao idoso.

Em relação aos cuidadores informais – e a fim de identificar as atividades de lazer e os fatores que influenciam na realização delas, por parte desse grupo, através de entrevista semiestruturada –, Batista et al. (2012) realizaram um estudo que mostrou a diminuição da quantidade e frequência da realização dessas atividades devido à responsabilidade para com o idoso.

O ato de cuidar exige esforço e doação da parte do cuidador, entretanto requer o cuidado próprio. Os autores desta categoria relatam a importância do cuidado com o cuidador e citam a necessidade da criação de políticas públicas para atendimento de ambos os grupos (idosos e cuidadores). A Terapia Ocupacional pode e deve olhar o cuidado para o idoso, sempre buscando maior qualidade de vida para este e buscar acolher o cuidador, buscando minimizar o impacto do cuidado que este exerce.

Outros

Cinco artigos não pertencentes às temáticas anteriores foram aqui analisados e discutidos.

Neves e Macedo (2015) realizaram um relato de experiência de um acompanhamento terapêutico ocupacional de uma idosa pelo Serviço Especializado de Assistência Domiciliar, a fim de explicitar o serviço e suas particularidades em relação do Estado do Espírito Santo e a inserção deste no Serviço Único de Assistência Social e a Política Nacional de Assistência Social. Com o debate sobre o papel da Terapia Ocupacional nesse serviço, abordando e discutindo as metodologias e intervenções, os autores destacaram a importância do trabalho multidisciplinar, da sensibilização com a necessidade e subjetividade do outro, bem como o trabalho em rede e em equipe. O artigo citou estudos dedicados à Terapia Ocupacional Social. Rebellato et al. (2015) apresentaram os papéis ocupacionais na velhice e sua relação com fatores demográficos, de saúde e socioeconômicos de idosos não institucionalizados, utilizando a Lista de Identificação de Papéis Ocupacionais. Como resultado dessa pesquisa, evidenciou-se a perda desses papéis durante a transição de passado para o presente, com a existência do interesse em ampliá-los no Futuro. Esse estudo detectou a complexidade e diversidade dos papéis ocupacionais de pessoas idosas na sociedade.

O artigo de Assis (2013) contou a trajetória da terapeuta ocupacional Marcela Guimarães Assis, após a conclusão da graduação, enfocando em sua trajetória profissional até se tornar referência na área de Terapia Ocupacional e Gerontologia e contribuir na formação de muitos terapeutas ocupacionais ao longo dos últimos 30 anos.

Realizado com integrantes do Programa de Preparação para a Aposentadoria, o estudo de Vilela e Paulin (2014) analisou planos e perspectivas que os participantes possuem em relação à aposentadoria, como se constituiu a rede de suporte social, atividades realizadas no cotidiano e a importância delas. Esse estudo foi realizado através de entrevista semiestruturada e utilização de um instrumento chamado de Diagrama de Escolta, que “avalia a rede apoio social do indivíduo, considerando suas relações sociais ao longo da vida” (Vilela & Paulin, 2014, p.499). O artigo mostrou que o trabalho é a atividade principal da maioria dos participantes da pesquisa, os quais relataram o desejo de se aposentar e cita a família como a rede de suporte. O estudo citou a importância da preparação e adaptação ao programa, bem como o trabalho da Terapia Ocupacional em buscar atividades que tragam sentido ao novo projeto de vida deles.

Alves e Paulin (2015) objetivaram verificar as ações e identificar a linha de cuidado da Terapia Ocupacional na Atenção Primária à Saúde, através de entrevista semiestruturada com seis terapeutas ocupacionais, devendo ter mais de seis meses de formados e atender a população idosa na Atenção Primária à Saúde. Realizando atendimento grupal ou individual, discussão de casos com a equipe, encaminhamentos e gestão do trabalho, a inserção desse profissional na Atenção Primária à Saúde mostrou-se importante contribuição para a produção do cuidado.

 

Discussão

Os dois periódicos utilizados como meio de pesquisa deste trabalho mostraram que existem poucos artigos sobre Geriatria e Gerontologia publicados por ano nos periódicos de Terapia Ocupacional brasileiros indexados na LILACS. Apesar do presente estudo não ter encontrado um grande número de publicações, percebemos que a área tem sido abordada de diversas formas pelos terapeutas ocupacionais, o que destaca as diferentes possibilidades de atuação desse profissional nesse campo. No entanto, percebemos que as publicações são predominantes na atuação dentro do campo da saúde, mesmo com a utilização de descritores como “idosos” e “envelhecimento”, que poderiam levar às publicações relacionadas à atuação do terapeuta ocupacional em outras áreas, como na assistência social e na cultura. Aponta-se essa outra perspectiva de olhar para o cuidado e a atenção aos idosos como uma lacuna nos estudos realizados por terapeutas ocupacionais, sendo importante ressaltá-la, uma vez que o envelhecimento, conforme afirmam Mendes, Gusmão, Faro, e Leite (2005), traz diversas consequências ao indivíduo, não somente relacionados à saúde.

A aposentadoria, que muitas vezes leva à uma diminuição da renda e das relações sociais dos idosos, pode implicar em necessidades a serem trabalhadas por outros setores. A questão da aposentadoria, apesar de uma pauta urgente e atual, sendo debatida frequentemente pelos setores relacionados às políticas públicas (Antunes, Soares & Silva, 2015), ainda foi pouco debatido nas publicações de terapeutas ocupacionais, com apenas um artigo (Vilela & Paullini, 2015). Esse dado indica, com base nas publicações, que esse importante marco do envelhecimento, com potencial de ser amplamente explorado pelos terapeutas ocupacionais, uma vez que esses profissionais estão diretamente implicados com as mudanças nas rotinas e nos papéis ocupacionais dos idosos, não tem sido alvo de suas pesquisas. Dessa forma, reflete certa fragilidade da área, no que refere à abordagem das questões sociais que envolvem a população idosa.

As mudanças nos papéis ocupacionais dos idosos, advindas de representações sociais a respeito da velhice, de mudanças na inserção social relacionada, dentre outras coisas, à saída do mundo formal do trabalho e às condições socioeconomicas dos idosos, são questões que devem ser estudadas por diferentes referenciais, não apenas ligados à saúde. A problematização sobre esse tema aparece, também, em apenas uma publicação (Rebellato et al, 2015).

A necessidade de benefícios sociais e a inserção em serviços da assistência social são realidades nessa fase da vida. A institucionalizacão dos idosos em serviços de proteção social também é uma realidade no país devido às vulnerabilidades advindas, principalmente, de problemas familiares e questões econômicas (Assis & Monteiro, 2018). No Brasil, o terapeuta ocupacional é previsto como um dos profissionais que podem compor a equipe de trabalho nos serviços da assistência social, desde 2011, a partir da Resolução no. 17 do Conselho Nacional de Assistência Social -CNAS. Apenas um estudo desta revisão abordou a inserção do terapeuta ocupacional nos serviços de assistência social (Neves & Macedo, 2015). Esse dado demonstra a invisibilidade de um olhar de outros campos de atuação da Terapia Ocupacional para os idosos. Tal fato chama muita atenção, porque as instituições de longa permanência para idosos são um importante mercado de trabalho para os terapeutas ocupacionais no Brasil. Arrisca-se falar que grande parte dos terapeutas ocupacionais que atuam na área de gerontologia, estão inseridos em instituições de longa permanência para idosos.

É essencial ao terapeuta ocupacional a busca por informações e conhecimentos acerca de sua área de trabalho. O presente estudo mostrou cinco temáticas diferentes sobre o assunto de escolha, sendo possível observar predominância dos artigos que focaram acerca de Instrumentos avaliativos e Protocolos, temática esta que mostrou a participação deste profissional desde a elaboração de um instrumento até a sua eficácia na prática exercida pela profissão. A predominância dessa temática pode se dar ao fato da cobrança das instituições e das políticas públicas de ações que possam ser “medidas” e “validadas”. Essa cobrança, pautada em um modelo científico positivista é ainda muito presente na saúde, pela hegemonia de uma visão biomédica das intervenções (Contatore, Malfitano, & Barros, 2017). Com isso, os profissionais de diferentes áreas buscam formas de validar suas intervenções. Nesse sentido, esses estudos são importantes no que se refere a essa consolidação da Terapia Ocupacional enquanto profissional que contribui para a melhora da assistência em saúde para essa população. Ao mesmo tempo, é preciso se atentar para que a atuação técnica profissional não se limite apenas às ações protocoladas e de cunho mais individualista, sem considerar os contextos e as subjetividades de cada um. Deve-se ponderar, inclusive, o fato de que o tempo despendido em avaliações pode gerar resistências aos atendimentos e incompreensão por parte dos idosos, tendo em vista que alguns são excessivamente longos e se utilizam de escores milimétricos em precisão. Tais escores são, muitas vezes, injustificáveis e, não raro, observam-se pesquisas e intervenções extremamente focadas na detecção de fragilidades e déficits que acabam por desestimular os idosos em relação aos atendimentos, implicando em um entendimento equivocado em relação à profissão. Ressalta-se que muitas pesquisas na área também se limitam a avaliar e a submeter os idosos aos cansativos protocolos, sem que ocorra, necessariamente, algo mais além de se alimentar os bancos de dados dos pesquisadores, sem implicar em diferenças qualitativas na vida dos idosos.

Ao olhar para a formação de qualidade dos profissionais da área, observamos a participação ativa do terapeuta ocupacional durante esse processo. A preocupação com a formação é importante, ainda mais com a tendência de envelhecimento populacional. Os artigos abordam tanto as perspectivas de docentes como de discentes, e referem-se à formação tanto na sua parte mais teórica quanto na prática. Entretanto, não temos ainda publicações que busquem avaliar a busca pela formação de cursos de pós-graduação, tanto latu sensu quanto strictu sensu, por terapeutas ocupacionais.

Para um atendimento terapêutico ocupacional, utilizam-se diferentes abordagens e recursos terapêuticos. Verificou-se a importância da escolha e aplicação destes, tanto para o usuário, respeitando o significado e a vontade dele, como para o objetivo do tratamento. As abordagens dos artigos referem-se à práticas do campo da saúde, mas em diferentes contextos, o que demonstra a possibilidade de atuação dos terapeutas ocupacionais nos diferentes níveis de assistência.

Os estudos também abordaram a eficácia no acolhimento aos cuidadores de idosos (formais e informais), e a elaboração de políticas públicas para ambos os grupos, buscando diminuir os impactos negativos do cuidar. Destaca-se o terapeuta ocupacional como parte integrante e importante em cada processo do cuidado com o idoso e os objetos e pessoas que envolvem o atendimento à essa população.

Este estudo apresenta como limites o fato de não ter incluído publicações de outras áreas e interdisciplinares, visto que é reconhecida a participação da Terapia Ocupacional em estudos e programas de formação interdisciplinar, assim como as publicações com enfoque na Terapia Ocupacional em periódicos de outras áreas; e, ainda, o limite de considerar apenas as publicações brasileiras.

 

Considerações finais

Apesar das limitações do estudo, acredita-se que ele cumpriu com o objetivo de apresentar as tendências atuais de publicações recentes da Terapia Ocupacional na Geriatria e Gerontologia no Brasil.

Aponta-se a necessidade de mais revisões sobre esse tema, ampliando a busca para artigos de revistas de outras áreas e interdisciplinares, assim como para periódicos de outros países, com objetivos de uma fotografia mais universal sobre a Terapia Ocupacional e suas ações com os idosos e possibilidades de comparações entre os diferentes contextos. Também seria relevante buscar uma avaliação dos métodos de pesquisas utilizados pelos terapeutas ocupacionais e as abordagens metodológicas que têm sido utilizadas nos artigos.

Com base no estudo realizado, pode-se concluir que, aos terapeutas ocupacionais, persiste a dificuldade de se entender o envelhecimento enquanto um fenômeno social e, consequentemente, a limitação de se utilizar abordagens restritas à área da saúde.

Ressalta-se a importância do investimento em publicações científicas como forma de expansão do conhecimento, visando à ampliação de informações e promoção de discussões. Espera-se que a revisão aqui realizada possa contribuir para os profissionais no que se refere a apontamentos práticos, bem como a perspectivas e necessidades futuras para a pesquisa.

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4 No Brasil o termo “Geriatria” se refere ao estudo clínico da velhice, sendo uma especialidade médica e “Gerontologia” ao estudo do processo de envelhecimento em seus aspectos multidisciplinares. Somente o termo Geriatria encontra-se no DESCS (Descritores em Ciências da Saúde) sendo, portanto necessária a sua utilização tanto na busca, como em alguns raros momentos ao longo do texto.

5 A escolha pelo período de 5 anos se deu pelo objetivo de tentar traçar um panorama recente das publicações, já que a pesquisa se realizou em 2016.

Fonte: Elaboração própria

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Figura 1. Fluxograma da busca.

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Quadro 1. Resultados da pesquisa – Distribuição dos artigos por categoria.

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Fonte: Elaboração própria